Seria muito bom se pudéssemos ler muitos livros todas as semanas, mas esse é um cenário quase impossível, já que as horas do dia estão sempre preenchidas com atividades diversas – trabalho, família, saúde. Com isso, resta-nos escolher o que há de melhor e aprender a ser seletivo.
O filosofo alemão Arthur Schopenhauer recomenda parcimônia ao mergulhar nas bibliotecas: a arte de não ler é importantíssima. Só assim é possível selecionar, no meio da mediocridade que predomina em qualquer época, aquelas poucas obras que realmente valem a pena.
“Para ler o bom, uma condição é não ler o ruim: porque a vida é curta, e o tempo e a energia, escassos.”
(Arthur Schopenhauer)
O problema é que, hoje em dia, o tempo é escasso mesmo para quem se atenha somente ao “bom”. Todo leitor acaba fazendo algum tipo de recorte na biblioteca dos séculos para constituir sua coleção íntima.
O escritor Ernest Hemingway recorda, em “Paris é uma Festa”, a ocasião em que perguntou ao poeta Ezra Pound o que ele achava de Dostoiévski. Pound tinha uma cultura poética assombrosa, trafegando com facilidade dos clássicos gregos e latinos aos trovadores provençais e aos modernistas. Mas sua resposta decepcionou Hemingway: “Para lhe ser franco, nunca li os russos”. Pound, que era fã de Stendhal, aconselhou o amigo a ler “os franceses”. Pound, afinal, não se limitou a confessar sua ignorância da literatura russa. Ele insinuou que Dostoiévski é dispensável para quem já leu Stendhal. Trata-se de uma opinião para lá de discutível, sem dúvida – mas toda opinião literária tem sua dose de capricho pessoal.
São várias as maneiras indiretas de conhecer um livro: pela crítica, por resumos, pelo que os amigos falam, por pesquisas na internet, pelas redes sociais, pela posição do livro em catálogos e bibliotecas. Pound com certeza não desconhecia Dostoiévski. Teria até uma noção exata de sua importância, mas, diante de outras excelentes obras, ele não selecionou Dostoiévski.
Assim, decidir o que não ler tem se tornado cada vez mais difícil. Diante de uma enxurrada de conteúdos – livros, artigos e tantos textos disponíveis na internet, que nos encantam e nos atraem como se fossem ímãs -, não é fácil decidir pelo melhor em detrimento do mais agradável e do mais atraente. Mas se não formos capazes de selecionar, despenderemos nosso tempo com conteúdo de baixa qualidade. Por essa razão, temos que desenvolver a habilidade de saber escolher.
Dicas de como selecionar a sua leitura:
- Pesquisar o nome do autor e o currículo resumido dele. Você terá uma primeira ideia acerca da qualidade do livro;
- Ler o sumário. Os tópicos são coerentes? A sequência é lógica? O conteúdo é de seu interesse?
- Ler algumas linhas, do início, do meio e do fim do livro. A forma de escrever é agradável? O autor é objetivo e assertivo? O vocabulário é rico?
- Comparar o livro com outros do mesmo tema. Qual lhe parece melhor?
- Ler as críticas, mas não as levar tão a sério: os melhores livros demoram (ou nunca são) a ser comentados;
- Lembrar-se de que o importante não é ler muitos livros, mas ler bons livros;
- Após ter adquirido o livro e ter iniciado a leitura, saber parar, caso a leitura não o agrade, não atenda as suas expectativas ou não tenha a qualidade que você imaginava. Não perca seu tempo: vá para outro livro;
Desenvolva a habilidade de selecionar e dedicar seu tempo apenas para a boa leitura. Não se recrimine por parar, pular ou ler apenas alguns parágrafos, pois, se isso for feito com consciência, você estará praticando a sua habilidade de ser seletivo. Na era do “acesso total”, é fundamental saber escolher.
Faça boas escolhas e aproveite as (boas) leituras!
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