As estratégias para fazer atividades nas empresas mudam ao longo do tempo – e isso não é diferente em gerenciamento de projetos, ainda mais com o cenário brasileiro atual. Pensando nisso, Álvaro Camargo, consultor do CPDEC na área de Gestão de Projetos, relaciona as principais tendências e seus impactos na forma como o trabalho de gerenciamento de projetos deverá ser feito.
1 – Uso de ferramentas gráficas para pensamento criativo coletivo
O uso de ferramentas gráficas para pensamento criativo em grupos de trabalho, como por exemplo, Design Thinking e Canvas (Business Model Canvas, Project Canvas etc.), se tornará cada vez mais popular. É inegável que tais ferramentas facilitam a compreensão de problemas complexos e a obtenção de insights poderosos quando corretamente utilizados. Por isso seu uso deve se espalhar, como, aliás, já se nota em função do grande número de treinamentos e workshops ofertados no mercado.
2 – Integração do gerenciamento de projetos com gerenciamento de mudanças (Change Management)
Não basta fazer as entregas previstas no escopo, dentro do prazo e do orçamento e com a qualidade especificada. Igualmente importante é que os stakeholders afetados pelo projeto aceitem as mudanças provocadas por ele. Por isso, aquilo que é genericamente chamado no mercado de change management deverá estar cada vez mais no foco das atenções. Não é incomum ver projetos cuja ideia era boa, mas que fracassaram devido à resistência das pessoas.
3 – Aumento da importância de gerenciamento do portfólio
A capacidade das empresas de criar projetos é maior do que a de realizar projetos. Isso significa que a escassez de recursos para fazê-los tem de ser administrada. O gerenciamento de portfólio de projetos crescerá em importância justamente por isso. As empresas que já tiverem um determinado nível de maturidade em gerenciamento de projetos se verão obrigadas a investir em gerenciamento de portfólio.
4 – Aprendizado formal e informal das lições aprendidas em projetos
Cada vez mais as empresas valorizarão as lições aprendidas em projetos como forma de mitigação de riscos e de problemas na execução de novos projetos. Hoje, boa parte já exige que elas sejam registradas. Mas, na maioria das empresas isso ainda é algo que não gera resultados significativos. É necessário que haja um processo de incentivo ao aprendizado formal e informal das lições e garantia de sua reversão em resultados futuros. Ter um repositório de lições já é um bom começo. Mas está longe de ser suficiente.
5 – Projetos de otimização de recursos
No curto prazo, a situação econômica brasileira é ruim. Isso significa que os projetos de otimização de recursos estarão em alta. O foco atual é cortar custos. Difícil ver empresas dispostas a investir em projetos de inovação ou de expansão de capacidade no momento de incerteza que impera em nossa economia.
6 – Maior exigência nas contratações
A economia brasileira está em recessão e continuará assim por um bom tempo. Isso significa que as oportunidades de contratação estão mais escassas. Em um cenário assim, as empresas serão mais exigentes com as poucas vagas abertas e no momento da contratação.
7 – A questão ética
Com o advento do escândalo da Operação Lava Jato e seus desdobramentos, a questão ética está sendo colocada no centro das atenções. O Brasil sofre de forma endêmica pela falta de ética nos negócios do Estado e na área privada. Todos querem levar vantagem em tudo. É importante perceber que a sociedade brasileira já não mais compactua com esse tipo de prática.
Isso levará à necessidade de revisar antigas práticas arraigadas nas empresas e em órgãos do Estado. Por exemplo: atualmente, quando uma empresa menor será contratada por uma empresa maior, enfrenta contratos de adesão, que são pontuados de armadilhas. A razão para isso, diz o jurídico dessas empresas, é para assegurar os direitos da contratante e evitar comportamento oportunista por parte do contratado. Por isso o normal é que os contratos estejam cheios de cláusulas padronizadas que visam cobrir todas as possibilidades de insegurança para a contratada. E é justamente isso que pode fazer com que a corrupção surja.
Cláusulas contratuais não precisam ser leoninas ou abusivas para garantir a segurança jurídica. Ao colocar contratos com muitas exigências, o contratado é quase que compelido a oferecer propina para receber, já que, frequentemente, é praticamente impossível cumprir com todas as exigências contratuais.
8 – Setores sem tradição em gerenciamento estruturado de projetos que absorverão profissionais
No Brasil, o gerenciamento estruturado de projetos, ou seja, com métodos formais, é algo bastante típico da área de projetos de engenharia e da área de tecnologia de informação. Mas isso está mudando. Algumas áreas que antes não demandavam profissionais de gerenciamento de projetos estão, atualmente, buscando ter estruturas organizacionais para esse tipo de atividade. Os setores nos quais isso é bastante perceptível essa procura são a indústria farmacêutica, os operadores logísticos, hospitais e as instituições de saúde.