O CEO sentado à minha frente está explicando como ele e outros executivos de uma empresa de telecomunicações foram pegos de surpresa por uma nova tecnologia que perturbou seus negócios. “Não vimos o Whatsapp chegando”, diz, balançando a cabeça. Ele quer aumentar sua capacidade de aprender, de enxergar e compreender o que acontece dentro e fora da empresa. Ele acredita que isso é vital não só para melhorar a performance atual, mas também para o sucesso contínuo de sua carreira. “Estou no começo dos meus 50 anos e tenho medo de que da próxima vez que quiser trocar de emprego as pessoas me vejam como irrelevante. Vi isso acontecer com outros. Como eu continuo ‘fresco’ e provo que tenho muito a contribuir?”.
A intuição dele está correta. Pesquisas mostram que líderes que pensam e agem a partir dos mesmos pressupostos e repertórios usados por anos tendem a estagnar ou a apresentar desempenho abaixo do esperado. Conforme David Paterson, diretor de Coaching Executivo e Liderança no Google, diz: “Permanecer na sua zona de conforto é uma boa maneira de se preparar para hoje, mas uma péssima maneira de se preparar para o amanhã”. Para sustentar o sucesso, é preciso desenvolver a “agilidade de aprendizado”.
O que é Agilidade de Aprendizado?
Agilidade de aprendizado é a capacidade rápida e contínua de aprender a partir da experiência. Aprendizes ágeis são bons em fazer conexões entre experiências e são capazes de deixar pra trás perspectivas e abordagens que não são mais úteis – em outras palavras, eles podem “desaprender” coisas quando novas soluções aparecem. Pessoas com essa mentalidade costumam ser orientadas para objetivos de aprendizagem e abertas a novas experiências. Elas experimentam, procuram feedback e refletem sistematicamente.
Um desejo de desenvolver-se conquistando novas habilidades e dominando novas situações é um elemento fundamental da agilidade de aprendizado. Aprendizes ágeis valorizam o processo de aprendizagem por si só – o que aumenta sua motivação e sua capacidade de aprender diante de situações desafiadoras.
Como resultado, essas pessoas não assumem uma postura defensiva e estão dispostas a correr riscos, cometendo erros ou evidenciando certas inabilidades. O CEO do parágrafo de abertura sintetiza essa postura. Nossa conversa aconteceu no Institute of Coaching, no Fórum de Liderança, que aconteceu na IESE Business School. Ele falou abertamente sobre seus desafios e medos, pedindo feedback de quatro coaches que tinha acabado de conhecer. Infelizmente, muitos líderes perdem boas oportunidades de aprendizado porque evitam se questionar ou sair intencionalmente de suas zonas de conforto.
Agilidade de aprendizado também envolve estar aberto a novas experiências, pessoas e informações. Dois professores sêniores de Gestão que encontrava em conferências acadêmicas ao longo dos anos exemplificam posturas opostas. O Professor A tem um apetite voraz por novas ideias. Apesar de seu nível acadêmico elevado, ele conversa de maneira entusiasmada com alunos de graduação e estudantes de universidades pouco conhecidas, assim como quando está com colegas “estrelas” ou quando colabora com estudiosos. Estando bem em seus 70 anos, ele é vibrante, energético e reconhecido como um líder ativo em sua área de pesquisa. O Professor B, ao contrário, mostra pouco interesse em estudiosos fora de seu círculo familiar de seguidores. Suas apresentações geralmente trazem ideias antigas e faz tempo desde que produziu algo novo. Mesmo tendo feito muitas contribuições importantes no início de carreira, o nível baixo de agilidade de aprendizado que ele demonstra agora acompanha sua reputação que diminui. Ele caiu exatamente na armadilha de carreira que o CEO quer evitar.
Como desenvolver Agilidade de Aprendizado?
Como desenvolver agilidade de aprendizado envolve aprender a reconhecer e mudar rotinas automáticas, a ajuda de um coach pode ser incalculável. O coaching, que Peterson chama de “a solução customizada de aprendizagem final”, ajuda clientes a entender como suas mentes trabalham e como fazê-las trabalhar melhor. Mas, mesmo que você não tenha um coach, existem passos que você pode dar sozinho para melhorar sua agilidade de aprendizado.
#1. Peça feedback
Pense em uma ou duas pessoas que interagiram com você ou observaram sua performance em uma determinada tarefa. Diga que você valorizaria a visão delas sobre como você se saiu e pergunte o que você poderia fazer diferente da próxima vez. Para maximizar o aprendizado sob este feedback – e isso é vital – afaste qualquer ímpeto de se defender. Agradeça pelas opiniões dadas e, então, se pergunte o que pode aprender com isso.
Para reduzir sua autodefesa e desenvolver uma mentalidade de aprendizado, considere adotar um lema como o de Peterson: “Deve haver uma maneira melhor e eu ainda não a conheço”. O poder do lema está na palavra “ainda”. Segundo estudos da psicóloga Carol Dweck, ao ter em mente que sempre existe mais a aprender e ao abraçar o processo de “mergulhar em águas desconhecidas”, conseguimos libertar pensamentos, dissolver medos de falhas e dar poder ao sucesso.
#2. Experimente novas abordagens ou comportamentos
Para identificar novos comportamentos para testar, Peterson recomendar refletir sobre um desafio que está enfrentando e se perguntar coisas como: “Qual seria uma coisa que eu posso fazer para mudar o resultado dessa situação?” e “o que eu farei diferente no futuro?”. Você também pode conduzir experimentos mentais, descobrindo possibilidades de novos pontos de vista. Por exemplo, uma de minhas clientes estava preocupada em liderar pela primeira vez um time de profissionais altamente talentosos. Após alguma reflexão, ela percebeu que tinha ficado presa na ideia de que, para demonstrar credibilidade, precisava saber mais do que eles. Como ela era jovem, isso era impossível. Manter essa perspectiva teria causado estresse e reduziria ainda mais sua credibilidade. Ao deixar o pressuposto de que ela precisaria ser a expert no assunto e ao adotar a perspectiva de que ela poderia agregar mais valor como facilitadora, ela conseguiu organizar e conduzir uma reunião onde ideias criativas fluíram livremente. A equipe, que anteriormente sofria com a má coordenação, desenvolveu relacionamentos mais colaborativos.
#3. Encontre conexões em áreas aparentemente desconexas
Por exemplo, Peterson tem aplicado sistematicamente princípios que usou para aprender sobre vinhos no domínio do desenvolvimento da liderança. Enólogos desenvolvem expertise provando vários tipos de vinho, comparando-os e discutindo com colegas. Pegando esses princípios emprestados, Peterson descobriu que podia estender seu domínio de desenvolvimento de liderança procurando uma grande variedade de líderes para treinar; estabelecendo comparações uns com os outros; e discutindo sobre eles com outros experts. Para você mesmo testar essa técnica, escolha um assunto que domine, mas que não esteja relacionado ao seu trabalho, e pergunte-se como pode aplicar esse conhecimento em seu desafio atual.
#4. Crie tempo para reflexão
Uma massa crescente de pesquisas mostra que refletir sistematicamente sobre suas experiências profissionais melhora o aprendizado de maneira significativa. Para garantir progresso contínuo, adquira o hábito de se perguntar: “O que eu aprendi com essa experiência?” e “o que acabou diferente do que eu esperava?”. Líderes que encorajam reflexão não só aprendem mais sobre eles mesmos, como também estimulam nos outros uma consciência sobre o contexto e sobre a prática, criando, assim uma base para níveis mais altos de agilidade de aprendizado.
Praticar essas estratégias lhe ajudará a extrair o máximo de suas experiências. O que nosso CEO aprendeu? Entre outras coisas, que estava procurando conselhos de pessoas que provavelmente teriam visões similares e que ele tem muito a aprender com duas pessoas de indústrias diferentes. Ele articulou o que esperava aprender ao falar com elas e agendou um horário para uma conversa na próxima manhã.
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Por Monique Valcour é pesquisadora na área de Gestão, coach e consultora.
Texto original ‘4 Ways To Become a Better Learner’ extraído da Harvard Business Review (Tradução: CPDEC)