Tablets, e-books e revistas digitais são novidades decorrentes do avanço tecnológico e que poderiam estimular o brasileiro a ler mais. Mas a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” (Instituto Pró-Livro/Ibope Inteligência, 2011) revela um cenário diferente.
Em 2007, ler era a quarta atividade mais apreciada no tempo livre, considerada por 35% dos entrevistados como forma de lazer; quatro anos depois, o hábito da leitura passou a ocupar o sétimo lugar, e apenas 28% o relacionam como lazer. Consequentemente, a média de livros lidos por ano no Brasil é uma das mais baixas do mundo: aqui, o índice é de 1,8 livros/ano, enquanto na vizinha Colômbia é de 2,4, nos Estados Unidos, 5,1 e na França, 7.
O mais alarmante, porém, é a qualidade da leitura, efeito direto do pouco apreço por essa prática no país. Conforme o Indicador do Analfabetismo Funcional de 2011/12, do Instituto Paulo Montenegro em parceria com a ONG Ação Educativa, somente um em cada quatro brasileiros é, de fato, alfabetizado e menos da metade da população tem nível de alfabetização considerado básico. Mesmo os que passaram mais anos na educação formal e, portanto, fazem parte de um grupo de pessoas qualificadas, não interpretam adequadamente o que leem.
Segundo a pesquisa, um em cada três brasileiros com ensino médio completo é de fato alfabetizado, e dois em cada cinco com formação superior têm nível insuficiente de leitura. Esses dados revelam o que pode ser chamado de um “apagão da leitura” no país, e também que, apesar dos anos de escolaridade, a maior parte deixa o ensino formal sem compreender textos que circulam socialmente e livros ficcionais ou teóricos.
Mais do que apresentar as causas dessa situação, que vão desde aspectos culturais e políticos até o papel da escola, da mídia e das instituições na sociedade moderna, é preciso agir para procurar reverter esse cenário, seja por meio de ações individuais ou localizadas, que, somadas, possam chegar ao todo da população. Isso porque criar, manter e aprimorar a habilidade da leitura não está restrito aos paradigmas educacionais, já que esta é uma habilidade relacionada também ao desenvolvimento e aprendizado pessoal.
Segundo pesquisa realizada pela Universidade de Oxford, a chance de ter um cargo elevado, entre as mulheres, cresce de 25% para 39% quando há o hábito de leitura. Entre os homens, cresce de 48% para 58%. Nenhuma outra atividade extracurricular teve impacto tão significativo no desenvolvimento profissional. Quem lê, portanto, tem muito a ganhar. E o aumento nas oportunidades profissionais é apenas um dos benefícios de se cultivar o hábito de ler.
Em qualquer âmbito da vida pessoal, quanto mais diversificadas forem as fontes de leitura e informação e quanto melhor for a capacidade de compreensão dos textos, mais propriedade o indivíduo terá ao falar de um assunto, defender uma ideia, articular argumentos, seja na comunicação falada ou escrita.
Por isso, insira o hábito de ler no seu cotidiano e aprimore a habilidade de compreensão do que lê, em vez de assumir uma postura passiva diante do cenário negativo da leitura no Brasil. Só assim será possível se diferenciar e se desenvolver pessoal e profissionalmente. Você só tem a ganhar.
Recomendações para criar o hábito de ler
- Comece lendo textos, revistas, livros de que mais gosta (temas, extensão do texto, tipo de linguagem, etc.). Isso irá estimular você a ler cada vez mais. Depois, diversifique as fontes de leitura, para ampliar cada vez mais seu repertório;
- Institua um horário ou dia da semana para ler, assim, essa prática fará parte de sua rotina diária/semanal;
- Aproveite as brechas do tempo para ler, seja em filas de banco, sala de espera de consultório médico ou qualquer momento em que se sentir sem ter o que fazer. Isso significa levar livros ou revistas (ou um tablet com tudo isso) para qualquer lugar.
Para aprimorar a leitura
- Destaque as ideias principais. Grife as partes que mais lhe chamam atenção. Use post-it para marcar páginas e trechos que lhe interessam. Anote questões e dúvidas que por ventura apareçam, para serem respondidas futuramente ou pesquisadas;
- Procure refletir sobre o que leu e, a partir dessa reflexão, elabore suas opiniões e/ou sínteses do que compreendeu;
- Cheque se entendeu o conteúdo, explicando com as próprias palavras o que você entendeu do texto. Depois, releia o texto e verifique se o que interpretou é de fato o que está escrito;
- Busque novas opiniões e pontos de vista sobre o que foi lido, seja na internet ou em encontros com amigos que tenham lido ou que se interessem pelo tema. Uma visão plural sobre um assunto baseia-se no contato com diversas fontes de informação.
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