Os estímulos não param de chegar num mundo superconectado, que exige dos profissionais cada vez mais agilidade e habilidade para lidar com o excesso de informação e com a pressão por resultados. O mercado não tolera atrasos, nem costuma ser compreensível com o tempo de produção individual. A consequência: profissionais inquietos, sempre com pressa e sofrendo por antecipação.
Esses sinais, característicos da vida moderna e prejudiciais à saúde emocional, podem indicar a presença da Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA), cada vez mais comum nos centros urbanos e nos ambientes corporativos.
Especialistas defendem que a SPA não é uma doença, mas sim um sintoma vinculado a um quadro de transtorno de ansiedade, que pode ser confundido com estresse, cansaço ou hiperatividade. Segundo o psiquiatra e psicoterapeuta Augusto Cury, autor do livro “Ansiedade: como enfrentar o mal do século”, quem sofre de SPA apresenta frequentemente sintomas como ansiedade, inquietação, insatisfação, cansaço físico exagerado, irritabilidade e flutuação emocional. Dor de cabeça e insônia também são comuns. Esgotado e sem energia, o cérebro manifesta seu desconforto no corpo, alertando-o para a situação na qual se encontra.
De acordo com a psiquiatra Elisa Brietzke, da Unifesp, entre os profissionais mais vulneráveis estão aqueles que ficam sob o foco de constante apreensão durante suas atividades, como executivos em geral, jornalistas, publicitários e profissionais da saúde. Paradoxalmente, são justamente os profissionais desses setores os que mais dependem de uma mente “limpa” para ter melhor desempenho em suas funções.
O pensamento hiperacelerado é altamente prejudicial para o corpo e para a mente, uma vez que impede o desenvolvimento de funções da inteligência, como refletir (antes de reagir), expor (e não impor ideias), exercer a resiliência (e não desistir), colocar-se no lugar do outro (e não pensar só em si) – todas habilidades essenciais no dia a dia profissional. Além disso, a SPA inibe a criatividade e a inovação.
“O excesso de informação torna-se entulho, que prejudica a ousadia, a capacidade de observação, a assimilação. Executivos que vivem sob a paranoia de se informar, que não são seletivos, esmagam sua originalidade e sua criatividade.” (Augusto Cury)
Assim, a sociedade moderna enfrenta um paradoxo diário. Embora a desaceleração seja necessária para garantir boa performance, o mercado não para e exige cada vez mais agilidade de seus agentes; apesar de a expectativa de vida ter crescido, o tempo emocional dos indivíduos diminui a cada dia.
A mente hiperexcitada empobrece as emoções. Não sentimos o tempo passar, não aproveitamos os momentos e temos sempre a sensação de apreensão e frustração por não termos feito tudo o que era necessário. O desafio, portanto, é “dilatar” o tempo, fazer muito do pouco e investir horas em coisas simples – algo cada vez mais raro –, sem interrupções, como cochilar confortavelmente, admirar o pôr-do-sol e ouvir uma boa música.
O especialista Augusto Cury propõe ainda a estratégia DCD (Duvidar, Criticar, Decidir): duvidar do que nos aprisiona; criticar pensamentos que nos ferem; e decidir como podemos ter mais qualidade de vida. Essa “higiene mental” deve ser exercitada sempre que a angústia ou o excesso de pensamentos se manifestarem.
Por isso, por mais que o mundo exija rapidez, o segredo é saber desacelerar, em prol da qualidade de vida, da saúde, da produtividade e até mesmo do bom desempenho profissional. Nesse sentido, profissionais dos mais diversos segmentos precisam se esforçar para “descongestionar” a mente, principalmente fora do ambiente de trabalho, e não sofrer diante de incertezas. Lembre-se de que cerca de 90% de nossas preocupações não se materializam e as 10% restantes acontecem de maneira diferente da que imaginamos.
Do outro lado, as empresas devem encorajar um comportamento saudável entre os colaboradores, não incentivando longas jornadas e a conexão ininterrupta aos e-mails e mensagens eletrônicas. Essas boas práticas devem estar enraizadas na cultura organizacional e ser reforçadas constantemente por meio de exemplos vindos dos próprios gestores.
Por fim, para evitar a SPA, um velho recado: aproveite a vida. Jamais traia suas férias, seus fins de semanas, as reuniões familiares e os encontros com pessoas queridas. Insira momentos de lazer como atividade obrigatória na sua rotina. Cada dia é uma oportunidade única para a transformação pessoal.
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