“Eu falo espanhol com Deus, italiano com as mulheres, francês com os homens e alemão com meu cavalo.”
Imperador Charles V, 1500
A comunicação intercultural não é um “novo paradigma do século XXI”, nem surgiu com a globalização. A história da humanidade nos prova que a comunicação intercultural sempre existiu: em guerras entre tribos, subjugação de povos, expansão de impérios, estabelecimento de comércio, conquista de territórios, exportação de produtos. Atualmente, ela se tornou mais intensa, pelas revoluções nos meios de comunicação e transportes que culminaram na globalização.
Tendências
As empresas continuarão a expandir suas operações para além de suas fronteiras nacionais, e a economia mundial irá se tornar cada vez mais integrada. Com essa globalização da economia, é necessário internacionalizar carreiras e se comunicar com diferentes povos. Além disso, as alianças estratégicas, assim como sistemas de localização, marketing e distribuição globais causarão uma integração e sinergia intricadas entre economias.
Pontos críticos
Alguns autores defendem que é impossível entender outras culturas. Mas a consciência da existência de diferenças culturais, a percepção de que elas afetam o mundo dos negócios e o conhecimento dos traços básicos de outras culturas (bem como de nossa própria cultura) minimizam surpresas desagradáveis (choque cultural) e nos permite interagir com sucesso com essas nacionalidades.
Existe também uma teoria que defende que a globalização criará uma cultura mundial única. Defensores dessa teoria se apoiam na internacionalização do McDonald´s e da Coca-Cola como exemplo de gostos, mercados e culturas tornando-se similares por todo o globo. Mas basta saber que os cardápios da rede de lanchonetes passam por adequações aos hábitos dos países onde se instalam: há venda de cerveja na Alemanha, alteração na preparação dos alimentos em Singapura e na Malásia, substituição do hambúrguer bovino por um de carne de carneiro na Índia, adequando-se às regras da religião hindu. Já a Cherry Coke, por exemplo, não foi bem aceita pelos brasileiros, que desaprovaram seu sabor, e foi retirada do mercado, enquanto nos EUA esse sabor é um sucesso de vendas.
Essa ideia de unificação de culturas também é reforçada pelo sentimento que algumas pessoas têm de que “no fundo, todas as pessoas são iguais”, uma vez que valores como justiça, gratidão, sobrevivência, procriação e necessidade de aceitação são valores intrínsecos a qualquer ser humano.
Conhecimento da língua x Conhecimento da cultura
Uma parte do problema da comunicação intercultural é resolvida pela adoção de línguas comerciais. O inglês é utilizado globalmente, o espanhol em negociações regionais na América Latina, o japonês no sudeste asiático e o alemão no leste europeu. Mas não se deve confundir o conhecimento da língua com o conhecimento da cultura. Embora a língua seja uma das formas de expressão cultural, sabe-se que a estrutura de funcionamento da cultura é muito mais complexa. “Para um alemão ou um finlandês, a verdade é verdade; para um japonês ou um inglês, a verdade deve ser dita contanto que não cause distúrbios; para chineses, não existe verdade absoluta; e para os italianos, a verdade é negociável”(Lewis, 1996).
Para Yamaguti, “contrato” também é uma palavra facilmente traduzida para diversas línguas, mas cuja noção tem diversas interpretações. Para um suíço, alemão, norte-americano, inglês ou escandinavo, um contrato é um documento assinado com o intuito de ser seguido à risca. Já os japoneses vêem o contrato como um ponto de partida que deve ser revisto e alterado à medida que as circunstâncias se alteram. Para um sul-americano, o contrato é uma situação que dificilmente será atingida, mas que deve ser assinada para evitar discussão.
Comunicação não verbal
O ator Mickey Rooney causou rebuliço no Reino Unido ao violar o protocolo e beijar a mão da Rainha Elizabeth na embaixada britânica em Washington, D.C. Já Richard Gere beijou repetidamente a atriz Shilpa Shetty no rosto em um evento de conscientização da Aids em Nova Deli, índia, um país onde demonstrações públicas de afeto costumam ser tabu. Um tribunal indiano emitiu um mandado de prisão contra ele e manifestantes irados queimaram imagens do ator. O mandado foi posteriormente revogado. O presidente Bush usou uma imprecação enquanto conversava com o primeiro-ministro britânico Tony Blair, em um encontro de cúpula na Alemanha no ano passado. Ele também esfregou os ombros da chanceler alemã Angela Merkel enquanto falava com o primeiro-ministro italiano Romano Prodi. Muitos europeus ficaram ofendidos porque o encontro de cúpula era uma ocasião formal e consideraram as ações como depreciadoras. Esses casos ilustram como as pessoas acreditam na universalidade dos gestos (até mesmo a linguagem de sinais apresenta inúmeras variedades) e que mal-entendido só ocorre quando falamos – reduzindo o significado de “comunicação” somente ao ato de falar. É imprescindível, portanto, conhecer a comunicação não verbal de outras culturas para evitar mal entendido como os relatados acima.
SILÊNCIO E INTERRUPÇÕES NAS CONVERSAS
O estilo de conversa do brasileiro tem mais interrupções e é seja mais longo. Segundo pesquisadores, a conversa no Brasil dura 51 minutos, contra 24 dos norte-americanos e 33 dos japoneses. Os brasileiros tendem a falar simultaneamente por períodos extensos de tempo, parecendo “lutar pelo espaço”, enquanto os norte-americanos respeitam mais os turnos de cada falante, deixando um silêncio entre a mudança de um turno para outro.
CONTATO VISUAL
Desde a infância, os japoneses e coreanos aprendem que devem evitar o contato visual direto, considerado uma intimidação ou indicar interesse sexual pela outra pessoa. Em outras culturas, o contato visual é muito valorizado. Evitar o contato visual é considerado sinal de timidez, fraqueza ou fuga.
TOQUE
DISTÂNCIA – zona de conforto
Antropólogos afirmam que cada pessoa tem uma bolha de espaço pessoal. O tamanho dessa bolha representa seu território pessoal ou a sua “zona de conforto”. Os norte-americanos já sabem que, se quiserem deixar um japonês desconfortável, basta apoiarem um de seus braços ao redor do pescoço do japonês, como se fossem grandes amigos. Cada cultura tem um tamanho de “bolha”, tendo sido estabelecido que:
- EUA = + / – 1 metro (distância de um braço estendido até a orelha da outra pessoa)
- Orientais = mais de 1 metro (maior distância possível)
- Latinos= + / – 50cm ou menos (chegam a ficar a uma distância equivalente a uma mão).
BEIJOS
- Os norte-americanos costumam beijar suas mães e parceiros amorosos, sendo raros os beijos entre homens.
- Os latinos, os sul-europeus e russos costumam se beijar no rosto como forma de cumprimento – homens e mulheres.
- Os homens árabes costumam se cumprimentar com beijos no rosto, prática também comum na Itália.
PERNAS E PÉS
- Oriente Médio = não se mostra a sola do sapato;
- França / Japão / Oriente = não se coloca os pés na mesa / escrivaninha;
- Tailândia = não se senta com as pernas cruzadas;
- Inglaterra = mulher não deve cruzar as pernas no nível do joelho e sim do calcanhar;
- Japão: deve-se retirar os sapatos para entrar em casas, restaurantes, casas de chá.
Por Vívian Cristina Rio e Rosângela Curvo Leite
________________________________________________________________________________
Deixe um comentário