É preciso usar o capital social para influenciar pessoas e, mais, entender de negócios e de gerenciamento de projetos para ser ouvido pela alta cúpula da empresa
Um termo muito utilizado no mundo corporativo é o RH estratégico. A expressão quer dizer que o RH precisa participar das decisões táticas da empresa, desde o planejamento estratégico, para gerar valor para seus clientes e acionistas, através da obtenção e retenção de talentos e manutenção da vantagem competitiva da organização.
Isso é mais fácil de dizer do que fazer. A realidade é que em boa parte das empresas o RH não consegue atuar de forma estratégica. Segundo Álvaro Camargo, consultor do CPDEC, a razão disso é simples: “Atuar de forma estratégica exige protagonismo. E para ser protagonista, o RH deve contar com meios para ser ouvido dentro da organização e, com isso, ser um elemento de influência. E não há como ser protagonista em uma empresa sem que haja um claro entendimento de negócios”.
De acordo com o consultor, o grande diferencial de qualquer empresa são as pessoas. “Não basta apenas obter e reter talentos. Uma das funções estratégicas do RH é influenciar positivamente as pessoas na organização, não apenas no alinhamento das ações com a estratégia da empresa, mas também na execução de projetos estratégicos. As empresas vivem a era da consciência da necessidade de gerenciar projetos. Em quase toda empresa existe demanda para esse tipo de capacitação”.
No entanto, para que uma organização consiga fazer os projetos certos da forma certa, é necessário a obtenção de consenso. É nesse ponto que há uma oportunidade de protagonismo para o RH: a de atuar como elemento de obtenção de consenso a respeito de quais projetos devem ser feitos e como devem ser feitos. “É isso que eu chamo de influenciar positivamente as pessoas na organização. Conflitos em projetos são frequentes. Alguns desses conflitos são de ordem técnica e isso é positivo. Mas outros conflitos são resultados de lutas internas de poder, que minam as possibilidades de entrega de resultados positivos. O RH é a área da empresa vocacionada para a prevenção e solução desse tipo de conflito”, diz o consultor.
Para exemplificar, Camargo conta que, recentemente, ao desenvolver um processo de capacitação em gerenciamento de projetos em uma grande empresa, ele percebeu que ela perde um enorme potencial de obtenção de resultados devido à não existência de algo simples: processos efetivos de lições aprendidas em projetos.
“Ter um processo de lições aprendidas em projetos não é algo complexo do ponto de vista técnico. Mas é algo complexo quando existem disputas internas. No caso específico dessa empresa, foi possível perceber que algumas áreas de importância estratégica trabalham de forma não integrada por questões políticas. Fazer lições aprendidas em projetos em uma situação de disputa de poder é complicado. Erros cometidos sempre podem ser usados politicamente em conflitos. Quem sai prejudicado nessa situação? A empresa, que não aprende com erros cometidos. Entendo que um RH que se considera protagonista deve atuar no sentido de obter consenso entre as partes para que o processo de lições aprendidas em projetos se torne um ativo da organização e não um problema.”
Capital social é um elemento-chave para influenciar pessoas e primeiro ponto para obter influência em uma organização é conquistar o respeito das pessoas. “Para isso, é necessário que o profissional de RH seja ético, tenha capacidade de diálogo, saiba negociar e tenha disponibilidade para ouvir. Para ser ouvido nas esferas mais altas das empresas é preciso entender de negócios e de gerenciamento de projetos”, afirma Camargo.
Segundo ele, sem um claro entendimento de estratégia e de modelos de negócios, é impossível ser ouvido pela alta administração das organizações. “Se o RH entende do negócio e de negócios e consegue discutir estratégias, sua chance de ser ouvido e de influenciar será muito maior. Se somarmos a isso a capacidade do profissional de RH de entender a dinâmica de planejamento e execução de projetos estratégicos, teremos um profissional com forte capacidade de influenciar positivamente os rumos da empresa”, explica o consultor.
Para finalizar, ele dá algumas dicas aos profissionais de RH que queiram atuar de forma estratégica.
“Busque desenvolver na sua organização processos de capacitação em três temas: estratégia, modelo de negócios e gerenciamento de projetos. Isso fará com que o RH passe a ter visibilidade de que está trabalhando em consonância com a questão estratégica. Ao fazer e participar desses processos de capacitação, o RH passará a entender desses assuntos, como também terá feedback dos participantes sobre questões-chaves relacionadas aos projetos estratégicos. Isso pode ser um bom ponto de partida para o RH se tornar um protagonista estratégico”.