Você pode imaginar que no meio da selva amazônica é possível ter uma aula de como dar feedback?
Pois bem, a aula aconteceu em uma pescaria que fiz no rio Iriri no estado do Pará. Para se ter uma ideia de onde fica este rio, a única forma de se chegar lá é viajando de táxi aéreo por quase duas horas, partindo de Santarém. Não tem sinal de celular e o único meio de comunicação é satélite Iridium. A pousada em que fiquei hospedado é muito boa e o serviço excelente – já me hospedei lá por duas vezes. Mesmo “estando” pescador por uma semana, não deixei de, como consultor, observar um bom exemplo de como dar feedback.
O ótimo atendimento oferecido pelos funcionários da pousada e a satisfação demonstrada pelo trabalho me chamaram a atenção. Era visível a forma prazerosa com que camareiras, cozinheiros, piloteiros (os motoristas dos barcos) atendiam os hóspedes. Esses mesmos funcionários, atenciosos e prestativos, levam uma vida difícil: residem em cidades distantes e ficam afastados de suas famílias por vários meses durante a temporada de pesca.
Com a curiosidade aguçada, conversei inicialmente com
uma das funcionárias, a Francinete, e perguntei como era a vida dos que trabalham na pousada e o motivo daquela satisfação. A “Nete” me respondeu que a única coisa ruim realmente era a saudade da família, mas que havia muita harmonia entre eles porque o Sr. Augusto, gerente da pousada, era uma pessoa muito boa e “conversava bastante com eles”, sempre orientando os funcionários de forma muito tranquila e respeitosa sobre como fazer as tarefas do dia a dia.
Na tentativa de saber mais sobre o modelo aplicado pelo Sr. Augusto, perguntei para outros funcionários como eram essas “conversas”. Todos me falaram que ele conversa com muita educação, “individualmente, falando apenas do problema ocorrido sem criticar a pessoa” que comete o erro.
Percebi imediatamente:
o Sr. Augusto é um expert em como dar feedback.
O feedback é um excelente método para corrigir e incentivar comportamentos. Devido o mau uso, a ferramenta está queimada em algumas empresas. Fui atender um executivo recentemente para uma sessão de coaching e ouvi dele o seguinte: “Desculpe o atraso. O meu chefe me chamou para uma ‘feedebecada’!” Podemos observar que nessa empresa o feedback virou adjetivo de algo não muito legal.
Esse tipo de conversa, que não é feedback, contamina o ambiente com desconfianças e fofocas, gera insatisfação e desmotivação entre os funcionários, afeta a qualidade do trabalho e prejudica o próprio negócio. Muitos gestores têm dificuldade em dar feedback porque desconhecem uma regrinha básica:
- Nunca inicie o feedback com “Você fez algo…”, pois assim o foco está na pessoa e não na tarefa.
- Inicie o feedback com “Este relatório, esta lição…” para direcionar o foco na tarefa, no produto do trabalho.
O objetivo do feedback é melhorar performances e atitudes. Quando direcionamos para a pessoa, e não para o fato, não damos feedback, apenas desgastamos o relacionamento gerando conflitos. Use essa dica no seu trabalho, na sua casa e você terá resultados surpreendentes e visíveis – assim como na pousada do sr. Augusto.
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Paulo Galvão é pós-graduado em Relações Interpessoais e é instrutor do CPDEC, onde ministra treinamentos na área de Gestão de Pessoas.
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