A popularização das redes sociais como plataforma de relacionamento tem permitido a seus usuários novas estratégias para construção de sua imagem pessoal e profissional. Por meio de publicações, citações ou associações a conteúdos midiáticos (que podem ser desde fotos de uma viagem, cursos realizados, até o check-in em um restaurante da moda), os usuários modelam, à sua maneira, seu avatar no mundo virtual.
Para quem busca novos seguidores, “curtidas” ou “compartilhamentos”, continuam valendo as estratégias clássicas de sociabilidade: estar sempre bem informado, ter um conhecimento cultural mínimo e se mostrar sensível e aberto a novas histórias e situações.
Nesse desejo por visibilidade, uma prática que tem se intensificado nas redes é o compartilhamento de citações, desde as de autoria de Platão e Freud até as de Neymar. Em sua maioria, essas frases célebres tematizam valores universais, regras de bom senso e relacionamento. Como são dotadas de criatividade, sensibilidade ou humor, citações são uma maneira de associar a si mesmo uma ideia, pensamento, visão ou sentimento de outra pessoa, com o intuito de dizer aos seguidores: “eu também sou/penso/ajo assim”.
Tamanho é o sucesso dessa prática de citar autores que, na internet, há inúmeros sites especializados em colecionar citações. Mas o alarmante é que não há necessariamente garantia da autenticidade da autoria dos textos. Personalidades como Clarice Lispector, Pablo Neruda, Gandhi, Mário Quintana, Luís Fernando Veríssimo, Arnaldo Jabour, Martha Medeiros e até Pedro Bial são as preferidas dos “falsificadores” de citações.
Um exemplo é o do texto que circulou durante muito tempo em correntes de e-mail: “Depois de um tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma…”. Embora a ideia seja muito expressiva, a redação deste texto não foi feita por William Shakespeare, como normalmente é creditada. A verdadeira autora é a escritora estadunidense Veronica Shoffstall, que inclusive teria registrado o copyright do texto em 1971.
Em outros casos, mais debochados e com caráter humorístico, as frases são creditadas aleatoriamente a figuras conhecidas. Por exemplo, a frase “O coração tem razões que a razão desconhece.”, atribuída em página do Twitter ao político Paulo Maluf, é, na verdade, de autoria do filósofo francês Blaise Pascal. A falácia reside exatamente na superficialidade e dinamicidade com que se pode compartilhar algo sem mesmo conhecer sua origem, ignorando o contexto no qual foi elaborada a frase.
Com receio de publicar ideias próprias, por achar que não serão tão interessantes ao público de suas redes sociais, os usuários acabam compartilhando informações erradas. O problema maior é que esse “erro”, juridicamente, torna-se uma ação ilegal e criminosa, pois, quando a fonte é omitida, configura-se plágio; quando a fonte é atribuída de forma enganosa a outra pessoa, crime, que pode gerar indenização pela violação dos “direitos de personalidade”.
Além de poder ser processado por direitos autorais, o citador pode se confrontar com situações nas quais seus conhecimentos sobre o assunto, obra, ou autor da citação poderão ser questionados. Afinal, ao compartilhar qualquer tipo de informação, assume-se que o usuário conhece, minimamente, o assunto.
Assim, apesar de popularizar e tornar mais acessíveis obras de grandes escritores, as citações aleatórias e a duvidosa procedência de seu conteúdo podem gerar a perda de credibilidade do que se publica. Embora seja possível identificar e sentir a genialidade de grandes pensadores por meio de curtos trechos, quando referenciados corretamente, vale a pena dedicar algum tempo à pesquisa e leitura da obra, assim como à busca de informações sobre o autor. Essa é uma maneira do profissional se diferenciar e crescer.
Recomendações para usar citações adequadamente:
- Procure saber qual é a fonte da informação: De onde veio essa informação? De outro usuário? De outra página de citações?;
- Pesquise o verdadeiro autor da citação;
- Realize a busca em sites confiáveis;
- Nunca publique informações sem antes conferi-las e creditá-las adequadamente.
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Por Vivian Cristina Rio, Rosângela Curvo Leite e Mônica Bulgari
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