Um operário, de tanto apertar parafusos em uma linha de montagem, passa a fazer seu trabalho de maneira automática. Muitos leitores leem os mais diversos textos da mesma forma como trabalha esse operário, sem usar recursos que a língua nos dispõe.
Lembre-se: A leitura não pode ser feita como funciona uma engenhoca mecânica, mas como se fosse uma música, com ritmo, melodia, expressividade, que ganha vida por meio da voz do cantor (e dos instrumentos, claro). Ler poesia ou prosa em voz alta, por exemplo, entre casais de namorados, para uma roda de amigos, para uma platéia de um teatro ou em uma sala de aula requer habilidade para causar o efeito pretendido. Mas, ao contrário do que se faz com música, os princípios musicais dos textos não são trabalhados. Uma pena, porque, com isso, deixam-se de lado a cadência, a fluência, a acentuação, a sonoridade e o encadeamento das idéias. Esses elementos devem ser considerados até quando lemos para nós mesmos: embora ao redor haja um silêncio absoluto, o cérebro pode estar gritando e fazendo mudanças de nuance, volume, emoções. A habilidade de fazer variações sonoras deve, portanto, ser cultivada.
Para usar o potencial expressivo da nossa voz e valorizar emoções e reflexões contidas nas palavras de um texto, alguns princípios do som devem ser considerados:
ALTURA
Condição de ser grave ou agudo. Pode-se usar essa característica para provocar uma enormidade de variações. Um texto sério e profundo não deve, necessariamente, ser falada num tom grave. Textos cômicos precisam muito de variações nesse aspecto, do contrário ficam sem graça alguma.
INTENSIDADE
Condição de ser forte ou fraco (volume do som). Haverá variações de intensidade (volume) tantas quantas forem as mudanças de emoções.
TIMBRE
Condição que permite reconhecer a sua origem. (Quando, no escuro, alguém o chama e você reconhece quem é, foi o timbre que permitiu a descoberta). Variar esta característica não é fácil. Para a leitura, deve-se focar em uma pequena variação quando surgir um texto em que, no seu conteúdo, houver a possibilidade de diálogo.
SILÊNCIO
Na leitura, o silêncio se materializa em elemento funcional por meio de pausas. Não apenas aquelas já determinadas por vírgulas e outros sinais de pontuação, mas as que preparam todo um outro conteúdo por vir, permitindo que o leitor ou o ouvinte assimile o que já foi transmitido para poder ir à frente. São aquelas pausas que deixam o ouvinte ansioso e mais atento antes de prosseguir.
DURAÇÃO
Tempo de emissão do som. Da mesma maneira, as palavras e sílabas lidas ou faladas podem ter durações diferentes conforme o conteúdo de emoções. Quando se exploram todas essas qualidades vocais na leitura silenciosa ou em voz alta, chega-se a um enriquecimento no sentido do texto e um aumento potencial da compreensão desses sentidos por parte dos ouvintes e de si próprio. Então deixe de ler como se apertasse parafusos e passe a vivenciar e dar vida àquilo que está diante de seus olhos.
Por Rosângela Curvo Leite, Vívian Cristina Rio
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Leitura:
- Como você pode mudar o cenário da leitura no Brasil (dicas para criar o hábito de ler!)
- Por que ler? Os benefícios da leitura
- Invista em leitura
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