“Se ela é uma boa profissional, não deve ser uma boa mãe”. Comentários como este não são raros de serem ouvidos, mesmo em uma época de incentivo à diversidade e à igualdade de gêneros. Não há como negar: apesar do discurso politicamente correto ser pregado, carreira e maternidade continuam sendo um tabu na esmagadora maioria das organizações.
Em um estudo da Universidade de Stanford foram apresentados aos participantes dois currículos a um posto de consultoria de gestão. Os dois eram de candidatas mulheres e continham informações idênticas. Um deles, porém, mencionava que a pessoa em questão fazia parte de uma associação de pais e professores. O resultado mostrou que as mulheres com filhos tinham 79% menos chances de serem aprovadas na seleção.
Não importa de que modo organizem a agenda, nem quão “presentes” estejam: as mulheres-mães são automaticamente estereotipadas, enfrentam discriminação e estão sujeitas à suposição de que “algo” está sendo negligenciado – seus empregos ou seus filhos. Parece não existir outra opção. Isso porque a sociedade, de forma geral, ainda não aprendeu a aceitar pessoas que são ao mesmo tempo (boas) mães e profissionais, capazes de serem produtivas e bem-sucedidas em ambas as esferas.
O ponto é que carreira e maternidade não deveriam ser encaradas sob um olhar de desconfiança, como acontece comumente. Apesar de toda a carga emocional e delicadeza envolvida no período pré e pós-gestação, grandes mudanças, aprendizados e lições resultam da experiência de ser mãe. E as empresas podem (e devem) valorizar aquelas que transferem com sucesso tais aprendizados à rotina profissional.
Quem não quer contar com um membro na equipe mais engajado, ágil, disciplinado, generoso, cuidadoso e disposto a trabalhar em conjunto? Essas são apenas algumas das competências frequentemente afloradas após o nascimento de um filho. Entre tantas mudanças, grande parte das companhias ainda preferem insistir na teoria de que mulheres-mães não “servem” como antes para ocupar determinados postos.
Segundo a Yellow Pages, 40% das empresárias inglesas com filhos pensaram em dar início ao próprio negócio no período de gravidez ou até o primeiro ano de vida do bebê. Delas, 92% acreditam que o sucesso nos negócios é devido às habilidades desenvolvidas durante a experiência da maternidade. Tal fenômeno, das mães que se tornam empreendedoras, ganhou até nome próprio: mompreneurs.
Ao comentar o resultado deste estudo, Geoffrey Beattie, psicólogo da Universidade de Manchester, afirmou que a gravidez tem grande efeito sobre o corpo e o cérebro, o que pode elevar o humor por longos períodos. Esse “estado” faz com que as mulheres se predisponham mais aos riscos e queiram transformar ideias em ações – como empregadas ou como empregadoras.
É verdade que o cenário carreira-maternidade possui inúmeras facetas que levam empresas e pessoas a adotarem comportamentos distintos frente às mudanças ocasionadas por esse momento. Mas o simples desejo ou a chegada de um filho, por si só, não deveriam ser motivos de reprovação.
Sheryl Sandberg, vice-presidente de operações do Facebook, defende que as mulheres devem procurar parceiros capazes de apoiar suas carreiras, dividir as tarefas e motivá-las a manter as ambições.
Anne-Marie Slaughter, ex-diretora de planejamento político no Departamento de Estado dos EUA, ressalta que o que precisa realmente mudar é a cultura das empresas: a ideia de que jornadas longas de trabalho, e não eficiência, resultam automaticamente em competência – o que não é verdade.
De todo o modo, é preciso saber respeitar decisões individuais e acreditar no potencial de mulheres que querem ser mães, sem deixar de crescer na vida profissional. Cabe às organizações e aos líderes o compromisso de deixar de lado pré-julgamentos e olhares “desconfiados” e, ao invés disso, acreditar e apostar no capital humano – independentemente de gêneros, anseios e contextos pessoais.
Ser mãe e ser profissional pode, sim, ser uma união de sucesso.