Num trem,
em grande disparada,
pai e filho corriam.
E ambos o que viam?
As montanhas, os montes,
os horizontes, o matagal cerrado
os penedos, os rochedos, os arvoredos…
Tudo a correr com a rapidez do vento tresloucado.
E o trem, que era em verdade quem corria,
parecia estar parado.
A criança,o petiz, cheio de espanto,
lhe perguntou: “Papai,
por que é que tudo ao longe está correndo tanto,
e o trem daqui não sai?!”
Os passageiros riam, pois sabiam
que o petiz se enganava. O trem, que parecia estar imóvel,
este de fato era que corria e voava.
Dos passageiros todos,um, somente,
nem de leve sorriu.
E então os passageiros riram dele porque ele não riu.
E o poeta (era um poeta…) disse então:
“É natural, senhores,
a ilusão do petiz iludido.
Muitas vezes a nós a mesma coisa
já tem acontecido.
E vós, ó meus senhores,
– os cientistas, os sábios, os doutores –
caís no mesmo engano lisonjeiro,
pois, afinal, todos nós nos enganamos,
quando, todos os dias, exclamamos:
— “Como é que o tempo passa tão ligeiro!”
E nós é que passamos!
Catulo da Paixão Cearense (Fábulas e alegorias) apud FERREIRA, Agostinho. Introdução à Filosofia. São Paulo: FTD, 1996, p.15-16.
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