O domínio das mulheres no RH é incontestável. É verdade que elas vêm conquistando cada vez mais espaço no ambiente de trabalho de forma geral, mas se há uma área onde elas realmente são a maioria é na de Recursos Humanos.
Nos Estados Unidos e na Europa, elas ocupam mais de 70% dos postos de trabalho em RH, de acordo com levantamento feito em 2014 pela Forbes. Em Israel, segundo a Universidade Ben-Gurion, 91% destes postos são femininos. No Brasil, a realidade é semelhante: 66% dos postos do departamento pertencem a elas, segundo a Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Nacional).
Sendo assim, aqui ou acolá, “o RH é feminino” – este, inclusive, foi o título usado em um artigo de John Sumser, pesquisador e editor da HRExaminer. E por que será que elas têm presença tão maciça especialmente nesse departamento? Clientes do CPDEC contribuíram com a discussão e responderam a essa pergunta. Veja algumas ideias:
“Acredito que essa predominância deve-se ao fato das mulheres serem mais atentas e sensíveis às necessidades do outro, facilitando os relacionamentos e o atendimento das necessidades dos empregados.” Joyce Tafarelo, Recursos Humanos – Neumayer Tekfor
“A área de Recursos Humanos dentro de uma empresa é aquela que tem como foco principal a pessoa. Embora nos dias atuais o assunto “gênero” esteja sendo questionado, esta área responsável por “cuidar” de pessoas ainda atrai mais mulheres do que homens. Mas, ainda temos um grande desafio: a maioria dos cargos de gerência e diretoria em Recursos Humanos ainda é ocupada por homens. Cabe a nós, mulheres, conquistarmos esse espaço, assim como já conquistamos tantos outros ao longo da história.” Marisa Nadalin, Recrutamento e Seleção – Astra
“No passado, o RH era mais voltado para a administração de pessoal e algumas empresas contavam com a figura de uma assistente social/psicóloga. Esse fato influencia muito no nosso cenário atual. Trabalhamos com pessoas e exercemos muito do nosso lado comportamental: sentimentos e emoções fazem parte do nosso cotidiano. Acredito que as mulheres conseguem lidar melhor com questões ‘não exatas’, diferente dos homens que tem um olhar mais pragmático.” Rita Cristina Pinto, Recursos Humanos – Allianz Seguros
“Trabalhar com Gestão de Pessoas exige um olhar e sensibilidade para os aspectos do comportamento humano. Acredito que, de um modo geral, estas competências são essência da alma feminina.” Cláudia Schledorn, Recursos Humanos – Elekeiroz
“As mulheres vêm conquistando cada vez mais espaço no ambiente de trabalho, de forma geral, por se capacitarem cada vez mais e trabalharem de forma eficiente. Eu acredito que o perfil feminino está mais propenso a se adequar às características da área de Recursos Humanos, pois a área tem como foco a Gestão de Pessoas, o que exige um olhar mais sensível e uma grande capacidade de lidar com sentimentos e emoções.” Elaine Regina Alves de Souza, Recursos Humanos – Kärcher
“Características como a sensibilidade, intuição, capacidade de se conectar com diferentes assuntos ao mesmo tempo, versatilidade e o foco em resultados fizeram com que a mulher se adaptasse muito bem à área de Recursos Humanos ao longo dos anos e seu espaço não para de crescer.” Bruna Infantini, gerente de Desenvolvimento Organizacional – Hospital Sírio-Libanês
“No passado, a área de RH não era muito valorizada na empresa. Era, então, um local “ideal” para as mulheres que não tinham papel de destaque no ambiente corporativo. Hoje, o RH desempenha papel estratégico e, se antes era uma área vista como desnecessária, hoje exige exatamente o que a mulher tem de melhor: a sensibilidade e sua capacidade multitarefa.” Melina Sampaio, Núcleo de Desenvolvimento de Pessoas – Embraer
“A predominância feminina deve-se ao fato de tratarmos os temas com sensibilidade, resiliência e pensando nas relações entre os indivíduos. É claro que homens também apresentam estas características, mas as mulheres fazem isso de forma mais natural e espontânea, o que nos ajuda em Recursos Humanos. Hoje, o RH vem ganhando um espaço cada vez mais estratégico nas organizações, muito próximo ao negócio, o que me faz acreditar que nossas características auxiliem diante de todo este cenário predominantemente masculino.” Cristine Casasco, Recursos Humanos – Novartis
“No meu ponto de vista, a mulher tem mais interesse pelas pessoas. Todas as características abaixo, mais femininas, estão diretamente relacionadas as atividades core de RH.
1) Gostar de gente
2) Interesse pelas pessoas da empresa (aproveitamento interno, desenvolvimento, carreira)
3) Percepção das emoções e dos impactos das ações da empresa na motivação dos colaboradores
4) Conselheira (de carreira, de comportamentos)
5) Boa ouvinte (elo entre as necessidades dos funcionários e as diretrizes da empresa)
6) Busca pelo equilíbrio (Clima Interno).” Catia Boschiero, Recursos Humanos – SETIS Automação e Sistemas
Alguns fatores que explicam o domínio das mulheres no RH
História
A primeira versão, precursora do departamento de Recursos Humanos, surgiu no século 20 durante as duas guerras mundiais, quando alguns cargos na indústria passaram a ser ocupados por mulheres, enquanto os homens estavam em combate; entre esses cargos, os de “trabalhadores sociais”, responsáveis por realizar uma espécie de aconselhamento e orientação aos funcionários.
Características da área
O setor de RH é apontado como o menos discriminatório dentro das empresas – e isso favorece o crescimento e o desenvolvimento das mulheres. Além disso, a área exige profissionais flexíveis e detalhistas, que saibam compatibilizar as necessidades dos colaboradores com os objetivos da organização.
É atribuição do RH prezar por um ambiente igualitário, justo, ético e colaborativo. Desse modo, a direção da companhia deve garantir que as políticas de RH não tolerem preconceito, constrangimentos e assédios – esse comportamento, aliás, integra a lista de ações feministas recomendáveis no relatório de 2014 “Women Matter”, elaborado pela consultoria McKinsey.
Perfil feminino
O perfil feminino está mais propenso a se adequar às características do departamento de RH. Segundo Sumser, a essência da área está na capacidade de fazer julgamentos sobre questões intangíveis, como personalidade e potencial individual. Assim, especialistas concordam que existe um conjunto de características, mais frequentemente visto nas mulheres, que as coloca em destaque nesse mercado, tais como:
- Predisposição para cuidar e para ajudar a desenvolver pessoas;
- Prática da empatia: perceber diferentes pontos de vista e se colocar no lugar do outro;
- Valorização das características individuais;
- Comportamento multitasking: realizar com qualidade várias tarefas simultâneas;
- Negociação menos conflituosa;
- Capacidade de ouvir.
A área de RH tem função estratégica e atua como parceira de negócios nas organizações, orientando e auxiliando os gestores; fornecendo apoio aos clientes internos; atuando como agente de mudança; transmitindo informações para diferentes públicos, fazendo a gestão do banco de talentos e criando políticas para melhoria do clima organizacional.
“Independentemente das questões de gênero, estar no RH é uma oportunidade de conhecer melhor a empresa e seus profissionais, interagir com diferentes níveis hierárquicos e transitar pelas áreas da organização”, defende Rosângela Curvo Leite, diretora do CPDEC. De todo o modo, para ela, a diversidade nas empresas é fundamental para os negócios.
“Temos que valorizar os diferentes pontos de vista. Nesse sentido, a diversidade deve ser vista como um fator competitivo. As empresas de comportamento altamente conservador correm riscos de perder espaço no mercado”, complementa.
Mulheres no RH, ok. Mas e na liderança?
No entanto, ainda que as mulheres no RH sejam maioria, ainda são poucas, no Brasil e no mundo, as que alcançam postos de liderança. Apenas 4,6% das 1.000 maiores empresas norte-americanas têm CEOs do sexo feminino – nesta pequena parcela estão Indra Nooyi, da PepsiCo, e Marissa Mayer, do Yahoo!. No Brasil, Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, e Claudia Sender, da TAM, são casos de sucesso.
O relatório de 2015 da NAFE (The National Association for Female Executives) divulgou quais são as 50 melhores empresas para mulheres – figuram na lista companhias como Abbott, Avon, Boehringer Ingelheim, DuPont, GM, IBM, Johnson & Johnson, Kraft Foods e Procter & Gamble. Nessas companhias, com sedes nos Estados Unidos, o avanço feminino é uma prioridade, por meio de programas de desenvolvimento e tutoria, definição de metas e iniciativas de contratação.
Mas se metade da humanidade é feita de mulheres, por que só algumas são líderes no mundo dos negócios? Algumas possíveis explicações: profissionais do sexo feminino ainda sofrem discriminação em conselhos de direção; algumas mulheres evitam trabalhos altamente competitivos e negociam menos agressivamente; mulheres tendem a rejeitar horários de trabalho prolongados e viagens frequentes que geralmente acompanham os altos cargos.
Apesar da “maré contrária”, as mulheres têm mostrado a que vieram. Segundo estudo Ketchum Leadership Communications Monitor (KLCM), que ouviu mais de 6 mil entrevistados pelo mundo, elas têm se saído melhor do que os homens nos quatro atributos críticos da liderança: 1) liderar pelo exemplo; 2) comunicar-se de forma transparente; 3) admitir seus erros; e 4) trazer à tona o que os outros têm de melhor.
Por isso, seja no RH ou fora dele, não há motivos para não acreditar nelas. E viva a diversidade de gêneros!
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