Fatores econômicos, logísticos e sociais contribuem para mudanças na cultura de uma empresa e podem fazer com que ela se adapte a uma nova realidade. Um exemplo de mudança-símbolo do século XXI é o modelo de trabalho ‘home office’. Inviável há alguns anos, quando existia dependência intransponível entre o profissional e seu ambiente de trabalho, esse novo modelo vem ganhando cada vez mais espaço nas organizações. Apesar de ser apontado como tendência irreversível, é inegável que ‘home office’ ainda encontra dificuldades de aplicação no Brasil.
O CPDEC elaborou uma pesquisa que foi respondida, via internet, por 117 executivos de pequenas, médias e grandes empresas, entre os meses de fevereiro e abril de 2013, sobre a prática de home office. 38,5% dos respondentes trabalham em empresas cujas sedes estão localizadas na Grande São Paulo e 44,5% na Região de Campinas. 57,2% dos respondentes afirmaram que as empresas onde trabalham ainda não adotam essa política. A maioria atribuiu essa decisão à cultura da empresa. Mesmo assim, 14,6% deles admitiram que, apesar de o modelo ainda não ser praticado nas empresas em que atuam, existem estudos e discussões sobre uma possível implantação. A primeira razão para acreditarmos na adesão e permanência do ‘home office’ tem relação com a velocidade do desenvolvimento das tecnologias, especialmente no que diz respeito à comunicação. Em menos de duas décadas de atuação efetiva em território brasileiro, a internet apresentou ao mundo inúmeras possibilidades que diminuem distâncias e facilitam processos.
O ‘home office’ já é uma realidade graças aos rápidos avanços tecnológicos: reuniões via ‘conference call’, troca de mensagens por e-mail ou por bate-papos instantâneos, compartilhamento de arquivos com base no conceito de “computação em nuvem”, transações financeiras online etc. Essas são apenas algumas das atividades que podem ser feitas de qualquer lugar do mundo globalizado em que a internet esteja presente. O trabalho a distância é impulsionado também por motivos econômicos, já que possibilita otimização do ambiente de trabalho- fator extremamente positivo se considerarmos o déficit de espaço em grandes centros e o crescente aumento do custo dos imóveis. Escritórios ficam ociosos boa parte do tempo, já que muitos funcionários têm horários e rotinas diferentes e atribuições que, muitas vezes, são feitas externamente.
Outra vantagem a ser considerada é a redução de gastos com mobilidade, alimentação e hospedagem em casos de encontros e reuniões, com participantes de diferentes localidades, que podem ser feitos via internet. O fator logístico dispensa explicações: está cada vez mais difícil se deslocar nas áreas urbanas. A Fundação Getulio Vargas fez um estudo em São Paulo, cidade onde operam 63% das multinacionais do país, sobre os custos relacionados à ociosidade quando há funcionários parados no trânsito. Em 2000, a perda era de 7 bilhões de reais; em 2008, o prejuízo tornou-se quase quatro vezes maior, saltando para 26,6 bilhões. Isso significa que, em determinados momentos, vale mais a pena contar com um funcionário produtivo em casa, do que com um improdutivo que demore horas no deslocamento.
O ‘home office’ traz também satisfação pessoal para a maioria dos colaboradores. De acordo com a pesquisa feita pelo CPDEC, 70% sentem-se atraídos por essa prática. Ao expressarem suas opiniões, citaram palavras como “bem-estar”, “flexibilidade”, “qualidade de vida” e “liberdade”. Trata-se, portanto, da construção de uma relação mais humanizada e individualizada e de uma gestão moderna, que contempla as necessidades dos profissionais em relação a horários e estilos de trabalho. A pesquisa revelou que 13% das empresas aplicam o trabalho remoto porque se preocupam com o bem-estar dos funcionários.
É claro que, apesar de todas as vantagens, o ‘home office’ também apresenta dificuldades ligadas, especialmente, à disciplina e produtividade. Não é qualquer indivíduo, de qualquer área, que pode e que está preparado para se afastar fisicamente da empresa – essa foi, inclusive, uma manifestação constante dos entrevistados identificada nos campos para respostas livres. Não à toa, o estudo feito pelo CPDEC mostra que nos lugares onde a prática já existe, o principal critério para que o colaborador possa trabalhar remotamente é a especificidade de sua atividade (24,4%).
Na contramão, um dado alarmante preocupa: a maioria das empresas que já adotaram a prática não investe em treinamentos que auxiliem os colaboradores a entenderem e executarem as mudanças de hábito que este modelo de trabalho exige. A pesquisa mostra que 70,8% das organizações não possuem processos ou programas estruturados de preparação dos colaboradores e gestores para a prática do ‘home office’, o que pode gerar resultados indesejados e desastrosos.
Seja implantado de forma parcial ou integral, o ‘home office’ é, de fato, o modelo de um futuro próximo, embora ainda seja visto de forma temerosa pela maioria. Aqueles que superarem o receio e investirem em capacitação alcançarão resultados surpreendentes. Qualquer mudança de hábito exige investimento e o principal deve ser direcionado ao bem mais valioso de uma empresa: o capital humano.
Por Paloma Domingues
Deixe um comentário