“Futebol, religião e política não se discutem”. Certamente, você já ouviu essa frase mais de uma vez. De futebol e religião talvez dê para escapar, mas no atual cenário no Brasil, é praticamente impossível evitar conversas sobre política no trabalho, seus desdobramentos e consequências.
O momento conturbado pelo qual o país vive, com investigações e reviravoltas diárias, estimula a reflexão e a expressão entre diferentes públicos. E se antes esse era um assunto evitado pelo menos no trabalho, hoje é pauta central da maioria das conversas pelos corredores, elevadores, refeitórios e durante os cafezinhos. No “chão de fábrica” ou na “sala da diretoria”, todos arriscam previsões, palpites e tecem comentários.
E não, não há nada de mal nisso. Ao contrário: é preciso dialogar e trocar ideias porque, diferentemente do futebol e da religião, a política não é uma escolha. Se você não “vai até ela, ela vem até você”. Afinal, gostando ou não de nossos governantes, somos todos atingidos por suas decisões. Portanto, tratar de política é fundamental e deveria fazer parte da vida em comunidade.
O que deve ser levado em consideração sempre é que cada indivíduo tem sua história, suas experiências individuais, suas origens, seus conhecimentos formais e informais, que diferenciam uns dos outros e influenciam o modo de pensar e agir. Por esse motivo, não cabe a nenhum de nós impor ou converter pensamentos.
Tratando-se do ambiente profissional, essa premissa é quase lei. Afinal, no trabalho a convivência também não é opcional. Independentemente das divergências e opiniões pessoais, obrigatoriamente há interdependência entre pessoas, atividades em equipe, vida em grupo. Gostando ou não daquela pessoa, concordando ou não com seu ponto de vista político, é necessário lidar com ela no dia a dia. Ou seja, mais um motivo para exercitar o respeito à diversidade de pensamentos. Diversidade essa, aliás, cada vez mais defendida pelas empresas.
Impossível não mencionar que palavras e atitudes são insumos para a formação da imagem profissional. Não se engane: no trabalho, você está sendo observado sob um olhar mais criterioso e sendo avaliado a todo o momento. Sua imagem como profissional está em constante construção e, por isso, é preciso ter muito cuidado em relação ao que é dito, como, quando e para quem. Palavras mal colocadas podem arranhar ou arruinar uma boa imagem em apenas alguns segundos.
Diferencie debate de embate
Em um debate as pessoas questionam, argumentam, contestam, defendem, mas também ouvem, refletem, repensam e contribuem. Um embate, por outro lado, é sinônimo de colisão, choque, incompatibilidade. É como uma “batida” em que ninguém se move e os dois lados saem danificados. Os embates não resultam em mudanças, nem em ações efetivas. Ao contrário: servem apenas para polemizar e fomentar sentimentos negativos, que certamente trazem impactos no clima organizacional.
Essa diferenciação dos termos nos leva à seguinte conclusão: não se pode encarar discussões políticas como um jogo, em que há perdedores e vencedores. Em discussões realmente produtivas todos ouvem, todos falam, todos trocam, todos aprendem, todos ganham, quaisquer que sejam os temas e argumentos levantados.
Por mais firmeza e convicção que haja, demonstrações de inflexibilidade e tentativas de imposição soarão negativamente e prejudicarão a imagem profissional. Sinais de intolerância, agressividade e preconceitos não deveriam aparecer jamais; frases prontas e clichês também devem ser evitados, pois revelam um discurso raso e pouco construtivo.
Devemos nos lembrar de que opiniões contrárias, colocadas de forma respeitosa, são a base da democracia e da diversidade. São elas que nos obrigam a sair da zona de conforto, a ampliar horizontes, rever opiniões e, assim, fortificar posicionamentos.
Aproveite o cenário atual para exercitar a argumentação, a escuta ativa e o autocontrole. Não seja impetuoso e, por fim, não tenha medo do silêncio. Em alguns momentos, não dizer nada é a atitude mais estratégica.