Hoje, é quase impossível passar alguns minutos sem ela. Ela é desejada, procurada, aclamada… Em alguns casos, paga-se bem para tê-la disponível – afinal, lidar com a sua ausência é cada vez mais difícil. Todos a querem por perto, seja para assuntos profissionais ou pessoais e, quando ela não está, a sensação é de um grande vazio. Como viver sem a internet?
O trecho acima pode soar como brincadeira, mas a verdade é que o espaço ocupado pela internet em nossas vidas é cada vez maior e irreversível. Hoje, ela é quase indispensável para informação, comunicação, entretenimento, aprendizado e até locomoção. Além disso, a internet está conosco a todo o momento, em qualquer lugar, seja no computador da empresa, no smartphone ou nos tablets que carregamos para cima e para baixo. No entanto, apesar de ser uma grande facilitadora, pode assumir eventualmente o papel de vilã. Isso porque seu uso inadequado afeta (e muito!) a produtividade.
Notificações de mensagens e de e-mails recebidos, comunicados nas redes sociais, atualizações de aplicativos, convites para eventos, pontuação em jogos online… Qualquer som, luminosidade ou vibração podem ser fatais e levar à dispersão – algo que estamos cada vez mais suscetíveis. O que se vê são pessoas preenchendo quase todos os momentos com pequenas tarefas, muitas vezes, inúteis e desnecessárias, como checar e enviar mensagens pouco importantes, olhar fotos e acompanhar atualizações de usuários ou de páginas nas redes sociais.
É assim que, com frequência, nos isolamos sem perceber; nos distraímos com tanta facilidade, que deixamos de observar o que está em volta, de estabelecer contatos reais e de dialogar com quem está ao nosso lado. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman defende que vivemos um momento de frouxidão nas relações sociais.
“É uma situação muito ambivalente e, consequentemente, um fenômeno curioso dessa pessoa solitária numa multidão de solitários. Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo”.
(Zygmunt Bauman, sociólogo)
Um estudo realizado pela Harvard Business Review revelou que, durante áudio conferências, a maioria (65%) dos participantes está fazendo outro trabalho; 63% enviam e-mails; 44% mandam mensagens; 21% fazem compras online. É quase uma “aceitação” da dispersão e do baixo envolvimento, mesmo em momentos em que se espera concentração e comprometimento.
O problema é que essa desatenção e falta de foco geram prejuízos imensos. Estudos mostram que, a cada pausa para fazer algo que não esteja diretamente relacionado ao trabalho, o profissional leva cerca de 20 minutos para retomar a tarefa que estava fazendo anteriormente.
Adicionalmente, sob o ponto de vista ético, o tempo do colaborador e os recursos disponibilizados pela companhia durante o expediente deveriam ser usados exclusivamente para fins profissionais. No entanto, é comum ver colegas checando e-mails familiares, pesquisando destinos de férias, trocando mensagens nas redes sociais ou acessando lojas online. De acordo com pesquisa realizada pelo CPDEC com mais de 800 entrevistados, 62% dos profissionais afirmam já ter observado pessoas usando inadequadamente recursos e materiais da empresa para fins pessoais.
Isso nos faz refletir: quanto tempo está sendo desperdiçado no dia a dia apenas com dispersões na internet? Quanto tempo poderia ser usado de maneira realmente proveitosa e quais seriam os ganhos? Quais riscos físicos e psicológicos os colaboradores correm ao se distraírem tão facilmente? Alguns dos prejuízos gerados pelo mau uso da internet podem ser mensurados; outros, não. Mas o fato é que eles existem e todos reconhecem.
Diante desses questionamentos e do avanço cada vez mais rápido das tecnologias, as empresas, de forma geral, têm um grande desafio: o de estabelecer limites em relação ao uso da internet no trabalho, sem causar insatisfação e frustração. Mais do apenas estabelecer limites é preciso conquistar “adesão”: sensibilizar e conscientizar os colaboradores, incentivando-os a adotar e a multiplicar boas práticas no ambiente profissional.
O caminho traçado dependerá de fatores relacionadas à atividade central da organização, à sua política e cultura. A empresa precisa se autoconhecer e conhecer também quem são seus colaboradores para adotar medidas de comunicação, prevenção e conscientização.
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