Pessoas que exercem papéis de liderança tradicionalmente tendem a apresentar características como confiança, otimismo e assertividade. A presença dessas qualidades nos líderes tem sido considerada essencial na condução de equipes, da elaboração de projetos e na gestão das empresas.
Recentemente, no entanto, um estudo realizado na Universidade de Harvard demonstrou a importante relação entre capacidade de liderança e postura comportamental. O resultado da pesquisa evidenciou uma estreita conexão entre estilo de liderança e nível de estresse. Os pesquisadores descobriram que líderes possuem um nível de estresse muito baixo quando comparadas a pessoas que não exercem função de liderança. Mas qual será a explicação para essa constatação? Será que a personalidade serena levou essas pessoas à liderança? Ou o fato de serem líderes lhes permite certa tranquilidade?
Foi constatado que pessoas que exercem liderança, como políticos, oficiais militares e gestores de grandes empresas, apresentam um alto nível de testosterona em seu organismo quando colocadas em situações de estresse. Esse dado já havia sido discutido pela ciência anteriormente. A descoberta, porém, é que, sob pressão, esses líderes produzem menos cortisol em seu organismo, o que lhes garante menos estresse e ansiedade. Fisiologicamente, os nossos pensamentos e sentimentos são controlados por hormônios. Quando somos colocados em situações de liderança e estresse, há dois hormônios que atuam no corpo humano de maneira mais incisiva: a testosterona,conhecida cientificamente como hormônio da “dominação”; e o cortisol, o hormônio do estresse.
Até pouco tempo atrás, o exercício da liderança e o poder era apenas atrelado ao nível de testosterona no corpo. Agora, sabe-se que essa habilidade é também influenciada pela capacidade de controle do grau de nervosismo, ansiedade e agressividade.
A postura corporal e a performance do líder
O fato de os líderes apresentarem níveis de cortisol mais baixos se dá não somente por possuírem certas características comportamentais, mas também porque se posicionam como líderes. A postura corporal pode influenciar na produção de hormônios, e, consequentemente, na performance do líder em situações de poder. Embora já fosse conhecido o poder da linguagem corporal na comunicação, nunca havia sido comprovado o poder que ela pode exercer no próprio emissor da mensagem.
A psicóloga social Amy Cuddy, responsável pela pesquisa em Harvard, orienta as pessoas que irão se submeter a situações de estresse a permanecerem em determinadas posturas corporais (braços abertos, queixo levantado, mãos unidas apoiadas sobre a cabeça, pés relaxados) por 2 minutos. Essas posições não só relaxam o corpo, mas são encaradas pela nossa mente como atitudes instintivas de demonstração de poder e segurança. Ao forçar nosso corpo a manter essas posturas corporais por um curto período de tempo, nosso cérebro entende que estamos nos sentindo mais “poderosos” e começa a produzir menos cortisol, deixando-nos mais relaxados. Aqueles indivíduos que seguiram essas orientações demonstraram desempenhos melhores em situações de estresse.
Esse dado revela que existe uma via de mão dupla na relação entre mente e corpo, particularmente em situações de poder – submissão, dominação – como entrevistas de emprego, apresentações e negociações. Não somente o estado de espírito afeta nossa postura, como também o modo como posicionamos nosso corpo interfere na produção dos hormônios do estresse e em nosso comportamento. Assim, é possível condicionar o nosso cérebro por meio de mudanças na postura corporal, de forma que ele se sinta mais “poderoso”, confiante e seguro.
Esse fator torna-se inovador dentro do campo da comunicação e da gestão de pessoas porque expande as possibilidades do aprimoramento das técnicas de negociação e apresentação. Mostra que a postura corporal é eficiente no lidar com o nervosismo e com a insegurança, fatores que mais atingem e prejudicam os profissionais. A comunicação não verbal, portanto, é decisiva na efetividade da transmissão da mensagem e também no exercício da influência pessoal. A postura corporal interfere não só na construção da imagem do indivíduo, mas também no seu comportamento comunicativo. Consequentemente, esses fatores intensificam a relevância da clareza e precisão da comunicação do líder com sua equipe. Saber administrar o próprio nervosismo (autocontrole) e compreender as reações do corpo (consciência corporal) em situações de tensão fazem parte de uma postura efetiva de liderança.
Por Karoline Kussik, Mônica Bulgari e Rosângela Curvo Leite
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